31 de mar. de 2007

Reencontro Marcado com a Beleza do Lugar

José Nêumanne*

A fotografia de Guy Joseph delata e trai o artista plástico que a produz. Ela não reproduz simplesmente a realidade do ângulo do olho de quem a vê, mas ressalta as formas que dela emergem, como se estas fossem frutos suculentos da imaginação de um pintor ou escultor, com uma câmera à mão e formas no quengo. A cor na lona do circo de Arara, nas roupas do reisado do mestre Abel Martins, de Zabelê, nos vestidos das dançarinas da festa de Iemanjá, em João Pessoa, ou do céu incrivelmente azul sobre a Ponte Vermelha, em Pombal, parece mais ter sido produzida por uma complicada mistura química que sido um mero registro tecnológico que passou pelo diafragma de uma máquina de lambe-lambe.

A moldura em forma de arco para a capelinha da Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, o rigor geométrico das janelas coloniais da casa de Guilhermina, ama de leite do poeta Augusto dos Anjos, em Sapé, a colunata clássica da casa-grande do Engenho Corredor, onde nasceu o romancista José Lins do Rego, em Pilar, e os coqueiros erguidos na direção do firmamento, como dedos em postura de oração, são formas de uma extraordinária riqueza visual que parecem transcender à própria existência. Custa a crer que elas de fato estejam por aí à disposição de todos e que não tenham sido engendradas pela fértil imaginação de uma doce mente criativa e buliçosa.

As imagens captadas pela lente sensível de Guy são uma exaltação ao bom gosto e ao senso de organização espacial da inteligência privilegiada de uma Entidade Suprema que possa ser responsabilizada pela criação da natureza. E também um elogio de corpo presente aos cérebros humanos dos quais brotaram o desenho da chaminé do Engenho Outeiro, em São Miguel do Itaipu, o desenho imaginativo e atraente do batik de Catolé do Rocha ou a elegantíssima e solene simplicidade de portais e janelas, seja do Museu de Pedro Américo, em Areia, seja da capela do Aterro de Santana do Gargaú, em Santa Rita. Nas fotos desse artista de escol, é possível ouvir gemer o carro de boi e o canto de almuadem grave e lamentoso de Pedro Aboiador, ambos de Zabelê. Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro revivem no bronze de suas estátuas no Açude Velho, em Campina Grande, assim como frei Damião ressuscita na pedra imóvel, mas nem por isso despida de expressão, do monumento em sua homenagem, em Guarabira. O milagre da imagem paralisada reproduzindo o movimento se realiza no vôo da coruja, em São José do Brejo do Cruz, e na saia ao vento da bailarina do grupo junino de Teixeira.

A Paraíba se refunda e se revê, bela e fagueira, no espelho que Guy Joseph lhe propicia e nos traz, refletindo a Itacoatiara, do Ingá, a Pedra da Caveira, em Araruna, o pôr do sol no Parque Estadual da Pedra da Boca, em Araruna, e as pegadas dos dinossauros, no solo sertanejo da Cidade Sorriso. E o paraibano, pintado para a paz, nunca para a guerra, como os jovens da nação Potiguara, da Baía da Traição, se sente produtivo e responsável como a jovem artesã quilombola da Serra do Talhado, lá de Santa Luzia do Sabugi. A sensação de ver estas fotos é a de conviver com aquela beleza toda sem sequer a ter percebido. E o impulso irresistível é sair e rever todos os lugares flagrados com calma, atenção e uma mãozinha dada pelo olho privilegiado deste poeta da imagem que é meu amigo Guy Joseph. Viva!

*José Nêumanne Pinto é jornalista e escritor

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns, seu trabalho contribui muito com a Interiorização do Turismo. Sucesso! Turismólogo Dorgival Junior